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quarta-feira, 24 de agosto de 2022

* Abraço *

 * Abraço * 


Abraço

Cabe na medida 

De quem abraça ou

Deixa-se ser abraçado.

Na compressão 

Corpos, calor, fusão

O aperto, faz-se assim: lento 

Embaraçados à luz, a tudo da-se jeito. 

Seja qual for o sujeito,

Envolto o laço, abraço

Sentimento

Coisa do peito 


24/08/2022

terça-feira, 16 de agosto de 2022

* PEDRO *

 

Naquela mesma via que dava pra uma rua sem o devido tratamento, assim como o corpo de toda gente que se faz desprotegida no mundo, nestes encontros que brotam incessantemente. Dois carros haviam colidido bruscamente. Em um deles, uma ambulância as pressas, ao prumo de seu destino. 


Apesar de toda sorte de abutre que se amontoava, tudo parecia razoavelmente bem. O motorista do carro não havia se machucado, bem como os funcionários da ambulância, e Pedro, o menino. 


Olhara como de relance um fotógrafo de jornal à figura, a criança ainda aflita aos olhos da mãe, um ser humano de nome, a desembocar neste asilo de loucos. Pedro, como pedra, a arrancar o asfalto barroso e cravar no dia de seu rebento as marcas da vida, o choro, o leite e o pedido da mãe. 


Pedro, olhando bem, fazia-se assim como símbolo, como rocha que tomba e no nome evoca o poder de uma tradição. 


O fotógrafo recolheu-se, não batera a foto, lembrara de tantas Marias e Joões, de tanta gente que apesar de brotar como formiga, nos enche em translado. Um nome, uma pessoa, tudo isto, neste momento só queria o presente.


16/08/2022

domingo, 7 de agosto de 2022

* A DOR *



A todos nós, em nossos mundos internos e percursos diários, quanta dor somos capazes de suportar? Dor que nos corroe até às entranhas, prende o choro, o pranto, rouba-nos o sorriso da face e o ar da vida. A quanta dor? Quantas somos capazes de afogar? 


O urro, o grito, o soco no ar e angústia somatizados, a coluna torta, e nós a olharmos cabisbaixos a hora e o "silêncio-sintoma" ,cancerígeno. O coração como que pedra, como que vulto da vida, vida fantasma 

A quanta dor? 


A não dar nome, não mostrar a cara , a expressão, o acordo e a senbilizacão 

Aceitar 

O acordo 

A quanta dor? 


O rombo comeu meus tímpanos e eu gritei desafinado minha dor, a dor de outro e do mundo, afugentei as traças, ergui-me de um pulo, eu e minha dor 

Peguei-a pela mão, carreguei nos braços 

E por sobre mantos, cifras e códigos 

Dei parte dela o mundo  

Caminhei ali sob aquela ladeira 

Desci de leve, respirei, plantei dela uma semente 

Para que ao raiar dos dias eu a celebre:  

A ela que me cabe 

E também a mim, cidadão do mundo 


07/08/2022

quinta-feira, 23 de junho de 2022

* Por tudo que é *



Sinto brotar de meu espírito um fervilhar, ebulição e o resplandecer da chama 


São tantos os nomes, são tantas as vertentes

Que por vezes, ouso, meu bom Deus, dizer que me faço guerreiro de tempos remotos a honrar a maternidade, a mãe, a mãe, que seja. 


Aqui de minha boca saem línguas que desconheço e clamam o fervor de tua glória, num  vibrar, antes e depois o início, as letras, e o teu nome, daqui. 


A lembrar-me mente e arte, psique e Eros, tradução. Movimento, raciocínio. A finura da lâmina de bambu e uma gota d'água. 


Da virgem Maria , amuleto. 

Jesus, carrego cá dentro , por dentro mis venas 

Ahora saluda mi corazon, 

Fuerza! Siempre! Siempre! Siempre! 


23/06/2022

quinta-feira, 16 de junho de 2022

 Poderia falar aqui sobre um conjunto de raças, crenças, opções sexuais ou gêneros, debater a cerca da espiritualidade. Debater? Mas como? Se o espírito que me da vida e te dá é um só. Os caminhos são muitos e é na paz que creio morar este caminho. Ninguém nunca disse que a jornada seria pequena, ou que precisaríamos dar passos largos como quem almeja um fim. Estar em conformidade com a natureza. Como a flor que desabrocha e o orvalho, os raios de sol, o zunir dos insetos, os latidos, o coachar dos sapos, o cantar das cigarras e as estações, somos, do gérmen a semente, o solo, água, mineral, e de um tempo longínquo, energia pura, somos, o fim orbitando horizontes, sob a aurora da consciência cósmica. Sopra com vento este barro, da a vida, está aí este punhado de pó, põe-no de pé.

segunda-feira, 30 de maio de 2022

 A consciência primária 

Clama  

Exultação do Cosmos 

Estreita ponte 

Divisa 

Linha 

Um ponto na órbita 

Somos nós 

O núcleo 

Irmãos de Gaia 

A mãe 

O Sol 

O pai 

O universo 

Corrente  

E as margens 

As margens do rio

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Dizer palavras como quem morde a boca 
Os lábios 
Dentes sólidos e pedras que trincam 
Um pranto fez-se gotas 
Cubos de gelo 
Frios 
Ascender-me o fio que liga ao estreito  
As nuvens 
Mil céus Abrirão 
E os portais, magnéticos orbes
Fulgurando carruagens 
Ao pico 
E ao precipício 
Neblinas 
Vestem seus véus 
O corvo baterá as asas 
As dez badaladas 
As 10:00 , resplandecerá 
A aurora em múltiplas faces nas geleiras do Ártico 
E os ursos voltarão a migrar 
Os ursos

sábado, 14 de maio de 2022

 Muito difícil é falar em ego sem antes ter sob ele o controle, no dia que o ego tiver caído por terra e todas as máscaras caírem , veremos , por fim, a face humana de cada ser. Limpa, bendita e lavada, e a palavra vívida. Um dia , de joelhos prostrados também cairão, acompanhados de suas lágrimas, o fogo de suas almas, a pulsar o tecedor de estrelas.

sexta-feira, 13 de maio de 2022

* Sobre aquilo que me disseram quando já não havia palavra *



O

Vasto 

Nomeia 

Circunscrito 

Num ponto  

Que se (der)rama  

Irrompe versos  

Luz 

Vazio


13/05/2022

quinta-feira, 12 de maio de 2022

* O breu da alma *



Chega tal manso o breu 

Quando ao cume, agasalhado à neblina 

Defronta imensidão do precipício

E a palavra que se faz em inevitabilidade 

Horizonte linguístico infindo

E a pulsarem estrelas no lado esquerdo do peito

Clamor por tempos de outrora, sem cessar

E um romper-se em cinzas, lágrimas. 

Fazendo-se, por fim ,do orvalho matutino 

A mais pura serenata de tempos vindouros

A chama que arde viva,escalda brasa, cintila a fagulha. 


12/05/2022

quinta-feira, 5 de maio de 2022

* Alma *

   A Cratera fez-se lua 
E da associação constante, rubro lábaro
Flamejantes almas 
Que no cintilar da brisa, aninham-se

O princípio e a palavra primeva 

Irmãos de longa data

Com sinceridade diz o cristalino, as lágrimas
E a nossa saliva 
A tradução 

A mimesis por um único fio leva Imperiosa carne a procura de redenção ,de tempos remotos a trilha se extenderá, olhem bem os postes, faróis e pirilampos, recordem... 

05/05/2022

domingo, 1 de maio de 2022

* PEGUE UM DELÍRIO E CHAME DE SEU *

 Nos dias de meus sincericídios 

Retorço-me todo e me apanho destas minhas garras 

Os órgãos e o sangue fervente, borbulham, deixo a cuidado dos corvos 

Sigo na névoa 

Os passos me doem 

Na medida, a ausência da gravidade 

Se faz sentida

Vestido em meu uniforme 

Desço ao breu 

Dezenas de cães espreitam-me a ladrar 

Exibem seus dentes e a espuma que goteja de suas bocas 

Não me alcançam

Eu os possuo 

Tenho parte dos cães e das feras 

Nem mesmo que mostrem os dentes e se mantenham inertes

Lembro-me da cor da cor rubra de meu uniforme

E da cor dos olhos daquelas criaturas 

Ali mesmo então, estonteado 

Me pegada agora, de súbito 

A uniformidade se fizera presente, a se alardear em cor, em cheiro, ação, e toda a magnitude 

Era bestial! 


30/05/2022

domingo, 17 de abril de 2022

* ILHA *


Um passo 

E o outro lado da porta, pórticos, portais

Um passo em falso, o coração exposto, a mão extendida 

Amiga

Fizera-se porto e daí a pluralizar-se o mundo 

E o que se estava posto 

As mãos a se estenderem 

A abrirem rachaduras no fundo do crânio 

Aos recônditos da alma 


- Vês, não és ilha !

Olhas bem por este campo que pisas, é o mesmo que cultivas.

Disse a velha figura na frente de minha casa  

Seus pés retorceram-se em raízes, seu corpo se extendeu firme, o caule e a árvore toda espiaram-me  

Dia-após dia , a espera do tempo e estação vindoura. 


A partir dali, deixara de ser ilha, além de globo, repensaria ser uni,multi,meta, habitar as dimensões nas mais diversas instâncias, pois ainda que insignificante, esperançava a vida no mais puro delírio dos libertos versos. 


17/04/2022


terça-feira, 5 de abril de 2022

* O espelho *


Certa vez ao acordar de sonhos intranquilos , dei-me num palco, sozinho, incumbido a ser protagonista daquele evento. Confortavelmente entorpecido, rodeado de mantas, reparei que estava zonzo, como se tivesse rodado por piruetas a fora no mundo dos sonhos, como se no terreno do inefável houvera ali feito morada, enquanto gélida permanecera a minha carne, estéreis haviam sido os campos que se alastraram em minha jornada.

 Dividido na inerente angústia que me perfazia , ao ser carne, morada do espírito, para se fazer luz, frente as trevas. 


A luz do palco acendera fortemente, meio que turvando minha vista, percebi ali que um de meus sentidos eram inúteis. Recordando então matematicamente do cenário, desci do palco e fui até onde deveria haver a platéia. Estava bastante escuro, e ao notar que não havia ninguém, sem querer dei de encontro com um objeto, foi quando bati fortemente minha cabeça nele, ficando novamente zonzo,tentei tatear bem então sua superfície, estava levemente rachada, foi aí que em minha consciência dei por conta, era “um espelho”. 


De repente alguma luz do cenário orientou-se a acender aquele local.

Olhei-me então no reflexo daquele espelho,e como certamente eu me reconhecia, parecia ser quase igual a mim tal imagem,se não fosse pela rachadura, é claro! 


Fui andando pelo terreno voltado a platéia e percebi que junto ao movimento de minha consciência, havia também a companhia daquela luz, na medida então que eu dava nome as coisas ou vibrava em espírito. Após andar mais um pouco, percebi que ali havia mais um espelho,e poderia ser engraçado ou aterrorizante, mas aquelas figuras, mesmo sob a luz, me lembravam imagens distorcidas em um lago, ou em espelhos próprios de circo. Percebia-se uma infinidade de “eu’s”, figuras de inúmeros tamanhos e que poderiam ter densidades aparentemente diversas, e talvez até almas próprias, mas ao vislumbrar a luz e observar o caminho, notara então que havia ali um exército, me parecia inútil seguir! 

Era tedioso viver diante de si constantemente, uma overdose existencial. Este monólogo vertiginoso, a pensar sobre si, a escutar sempre a própria respiração, ainda que descompassada, sentir as batidas do próprio coração , sim, dele mesmo!Ininterruptamente! Carne!

E lá, no fundo daquele oco torácico onde fica toda sorte de órgãos, fazer zunir o sistemático e ruir, como trovão, um grito estridente na calada da noite, como rato, como porco, como pássaro, como face animal, que teme, mas lança no solo a semente de revolta, de todos os tempos, e com ela a liberdade!


Por fim, caí de joelhos no chão, e junto a isto, estilhaçaram-se todos os espelhos, milhares, num barulho ensurdecedor. Reparei então, que mais a frente, naquele salão reservado a platéia ,ainda ficara um espelho, e então decidi caminhar até sua direção, no entanto, durante o percurso feri meu pé com um dos cacos daqueles espelhos. Do meu pé, logo percebi que saia sangue, apesar de não ser caso grave. 

Ao chegar por fim ao último espelho e defrontar-me com ele, percebi que não havia nada, nem mesmo uma única figura que sugira, qualquer coisa sugestionada diante de todo aquele processo. Pude notar então que meu pé estava doendo um pouco, e ainda que o corte não fosse profundo ,ele não tinha de fato como estancar facilmente o ferimento, foi quando eu resolvi levanta-lo cortado mesmo, a meia altura ,e comprimi-lo contra o chão. 

Quando fizera isso e ainda sem tirar a visão do espelho, percebera que a imagem se movia, como as águas de um rio a reagir com o impacto. Diante disso, eu notei, finalmente ,que aquele não era um espelho comum, ele certamente tinha vida, e se quer talvez fosse um espelho. 

Foi aí então que a luz do salão teatral fora se alastrando, enquanto ,em fluxo ,“as águas” do espelho fluíam. Já não sabia bem o que fazer, mas talvez desejasse algo, pois todo homem, de dentro de sua alma espera algo. De uma grande barra de ouro, a um bom dia de pesca, cada alma no canto desse mundo espera, ou luta por algo. Estendi a mão, sem decerto entender aquele meu gesto intuitivo, então de repente minha mão adentrara o espelho, como num líquido, como água. Notava algo então na superfície de minha mão e quando pude retirar, estava ali: 

"Um lápis" !


Fechei então os olhos por um instante, queria parar no tempo, na eternidade, embora soubesse de minha finitude, e o quanto era falho em  todas as minhas instâncias, ainda assim, estava disposto a dar o melhor de mim e usar de meu espírito para ser guiado e guiar, atentando-me a possível jornada.


Como marca temporal daquele evento e desfecho, repentinamente terminara a espalhar-se por aquela sala grande e vazia uma nítida essência de lavanda. Eu não conhecia bem de essências, talvez, tinha um olfato prejudicado, mas ainda assim apreciava o odor que era capaz de impregnar os perfumes, e também esta mesma característica presente na poesia, das coisas, da vida. 


05/04/2022


domingo, 13 de março de 2022

* O CONTO DOS DOIS VELHOS *

Como num percurso sinuoso de silhuetas a se desenroscarem, pairando em plano onírico, são cuspidas duas criaturas. 

Duas criaturas levemente mórbidas, estranhas, alheias a si, e talvez ao mundo. Flácidas, caquéticas. Os ossos àmostra, o conjunto de pele pendurada, as unhas sujas, cabelos ensebados, além de faltar-lhes dentes pra degustar o que a vida lhes dá. 

Diz-se ainda que um deles é míope. 

 

Os dois se olham rápido, mas deixam para que se siga a sina, a marcha . Logo a frente então surge uma placa, em tom imperativo: SUBAM! 


Nada mais... 


Ali adiante está a penitência anunciada: 


Uma escada em formato de caracol de tamanho inestimável, intimidador. Se tomar pelo pecado de olha-la de baixo é ao mesmo tempo deixar-se levar pela vertigem, e a sedução do medo, a impossibilidade. 


Onde reside a força para aquelas criaturas?


De onde tirariam o combustível necessário para elevar-se , sem o temor de muitas vezes ter a consciência de que também se anda em círculos, de que no teatro da vida, elevamos-nos uma vez para cair logo em seguida, para cravar espinhos , pregos e dar “murros em ponta de faca”. 


-“ Por mim está bem, vou subir!”


Falara um daqueles, em tom esbaforido, como que cansado de narrativas verborrágicas.


Então, em corrente, o outro sobe, da o primeiro passo. 


Começa então uma odisséia, onde aqueles corpos se deixam levar pela sinuosidade, a vertigem, o cansaço, onde a própria força da gravidade passa a atingir efeito ilusório, onde o tempo é relativo. 


As criaturas pastosas, como em papa, o suor se deixando cair pelas dobras, e as articulações estalando, a respiração desfalecendo , porque àquela altura o ar já se consumira, as criaturas se consumiram. Os corações a fraquejarem , e a vista a turvar-se. Não se sabia ao certo mais quem era míope. Na falibilidade, na inerência orgânica de onde viemos e para onde vamos, somos todos irmãos. 


De repente aqueles seres sentem que os degraus sumiram, como que por ilusão de óptica. 


De frente paira uma espessa nuvem escura de onde não se sabe como se formou ou para onde vai. 


Mas como um retrato do que fora , face do sagrado e ainda assim enigma, surge um caramujo, vagarosamente a deslizar, no meio daqueles dois. Era o único elo de ligação que parecia se interpor ali, ainda assim um sinal da natureza. 


Observaram aquele ser aturdidos naquele mar de “nada”, e então seguiram mais uma vez corajosamente frente a névoa, como se o fôlego houvesse se restabelecido. 


Desbravaram o local em meio a escuridão, numa espécie de peregrinação ,como se houvesse talvez perdido  algo a se recuperar. Àquela altura do campeonato não poderia saber exatamente o que era, os bons homens hoje em dia carecem de tantas coisas, perdem-se no caminho, ou mesmo desprendem-se de seus princípios, de seus propósitos. A verdadeira tragédia é quando uma alma se deixa levar, por todos os males que ali no mundo dos homens também está, mas é por isso mesmo que se deve aprender a vigília e certa disciplina , porque nisto consiste a liberdade de saber discernir as verdadeiras escolhas no caminho da ascensão. 


-Estou vendo algo!(1) 


-Ora como você está vendo qualquer sorte de coisa em meio a esta névoa? (2)


- Coloque a mão no seu bolso.(1) 


Estavam ali os dois senhores olhando a frente, mas agora depois um deles notou que havia um volume em seu bolso, retirou então e quando olhou ali, havia uma concha de caramujo vazia. 


Os dois senhores fitaram aquilo, mas um deles esboçara um fino sorriso. 


De repente a névoa que pairava fora aos poucos se desmanchando e como numa sucessão de milagres, dezenas de crianças apareceram ali, bem adiante, a frente daqueles senhores. Elas não o notavam , estavam completamente entrertidas nos seus jogos de faz de contas, empinando pipas. Algumas pipas se chocavam, outras voavam alto, outras iam mais abaixo, mas ali ,elas bem sabiam a verdadeira sabedoria, a vida era aquele jogo bendito, aquele faz de contas, repleto de símbolos e quebra-cabeças, onde o imaginário é pura imensidão. 


Os velhos fecharam os olhos por um instante... 


Quando viram, finalmente, eram eles ali, materializados em primeira pessoa, desde o início.







segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Frases do filme "Cemitério do esplendor"(2015)

 - "O homem rico é como uma formiga, sendo sempre observado. " 


"O homem pobre é como uma montanha, sendo sempre ignorado." 


"Aquele que persegue o paraíso acabará no inferno." 


"O tempo perdido e sem uso é um tempo sem fim." 


"Quando ofendemos alguém queremos ser perdoados, mas quando alguém nos ofende nós esquecemos de perdoar." 





sábado, 12 de fevereiro de 2022

* AVE *

Pomba não era 

Branca, tão pouco


Repentina aparição, ainda assim  

Rachara-me o silêncio 

 

Seu pouso macio  

Em chão de concreto 

       

O cheiro do mangue 

Seu negrume, a matéria estampada 


       O andar da ave 


        “AVE”! 


        Pra perto ...


       “AVE” 


       Pra longe... 

     

 Fez da noite espetáculo, exibiu bem o bico, catou pequenos insetos no chão e depois levantara em revoada 


Um voo leve 


Como quem sabe do vento , a força que tem 

E da engenharia das penas, das asas.


13/02/2022


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

* O VENTO *



Era tarde. Tarde demais talvez, mas o sol ainda brilhava tênue. Sentia em meus olhos um leve ardor e o macio do colchão em minhas costas naquela minha posição horizontal. Eu estava deitado na cama do meu quarto, localizada paralelamente à janela, pensando nos últimos intervalos de tempo, no que fazia ali, esquecido de como e quando fora deitar.


Lá fora e através de uma brecha da janela o vento soprava um zunido levemente assobiado e, de súbito, parava. Através do vidro eu via as folhas de uma mangueira dançando ao som assobiado do vento e, inesperadamente, pararem.


Havia convidados na casa, mas ali, no quarto, outro tempo se desenvolvia perante meus olhos. Porque eu estava de sapatos? “Incrivelmente engraxados”. Pensei, enquanto os observava absorto.


Despertava daquela contemplação quando percebia o barulho silencioso das visitas na sala de estar, poucas vozes, alguns ruídos de fala incompreensível e o som de talheres educadamente manuseados sob o peso da discrição.


Senti em meu pescoço a opressão de uma gravata. “Porque estou deitado de gravata?” Cogitei por um instante, mas, de súbito, o zunido do vento levemente assobiado recomeçou. Olhei para a janela: as folhas balançavam lá fora alisando o vidro da janela.


Era fim de tarde e meus olhos ardiam vermelhos, como a tonalidade das nuvens. Enquanto isso, dentro do quarto, sombras se projetavam das folhas da árvore, indefinidas.


Era interessante como antes dos últimos raios de um pôr do sol a luz sempre se intensificava, vibrante.


Absorto pelo movimento negro das sombras indefinidas que balançavam, dançando dentro do quarto ao som do vento lá fora, num zunido levemente assobiado, mal percebi quando minha mãe entrou no quarto através da porta entreaberta


- Tudo bem, querido? Você já viu quantas visitas? - Ela pronunciava as palavras espaçadas pelo receio das respostas, a cabeça meio baixa e a voz trêmula, com uma inquietação e movimentos sutis. Ela se aproximou e passou a mão cuidadosamente sobre meu cabelo, como que o ajeitando, acariciando na medida em que me penteava. Seus olhos ardiam. Simplesmente virou-se, dando as costas, e saiu dizendo: “Até logo, filho”. Eu nada disse. Estava entretido com o som do vento e o movimento das folhas lá fora com suas sombras aqui dentro.


Silêncio. Sem o movimento do vento voltei minha atenção novamente para os sapatos brilhantemente engraxados. “Porque eu estava deitado com eles?”. Minha mãe sempre reclamava quando eu me deitava na cama de sapatos, mas hoje ela nada disse. Nenhuma reclamação. Meus olhos ardiam, agora um pouco mais. Foi quando dois primos, por volta de cinco anos de idade, entraram correndo no quarto e pararam, um atrás do outro, rápidos, barulhentos, cheios de vida. Antes de olharem para mim, subitamente olharam para a janela quando o vento soprou com seu assobiar por sua brecha. 


Vocês não podem brincar aí!. - Eles olharam para mim e saíram correndo do quarto com o grito do meu pai ao corredor. Ouvi passos. Meu pai surgiu debaixo do portal da porta, encostado em uma das laterais. Ele apenas me olhou fixamente, fundo em meus olhos, desceu a vista e parou nos sapatos. Tive a impressão que chorava. Ele entrou, fechou a janela entreaberta, interrompendo o assobio do vento, e saiu.


Lá fora a árvore balançava com suas folhas mudas e o sol estava quase todo pousado sob o horizonte.


Olhei para as sombras que aos poucos desapareciam da parede quando vi outras negras se aproximarem pelo corredor. Todas vestidas de preto. Um choro conhecido meu, mas carregado de um pesar totalmente desconhecido, ecoava pelo corredor, era minha mãe, carregada por meu pai, que com as mãos e a razão segurava o choro que escorria pelo canto dos próprios olhos.


Todos eram familiares, muitos há tempo que não os via, seus olhos ardiam como o sol, movimentando-se como sombras, zunindo o assobio suave de um choro triste. Olhei para a janela e a última coisa que vi foram as folhas inertes, mudas e secas. 


Thomas Williams

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

* O silêncio *

O não-lugar 

Perdido no espírito 

Na vibração de suas ondas  cerebrais

Caiu ...

E até a escuridão que lhe fora incumbido

Caiu 

Não sabia se nascia ou se morria 

Era como o rebento que ao ver a luz a respiração lhe saltava junto com os olhos fora das órbitas ,

Ou como o velho decrépito,que se perde entre a dor e o desespero, para esbanjar por fim o semblante sereno do que já não é, e fora? 


Uma imagem 

Uma casa vazia 

Poucos cômodos 

Chove... 

 Por um momento sente as vidraças da janela que impelem o vento vibrarem, mas lá de fora pode se escutar a natureza numa ânsia imponente de contato e um assobio assim prossegue... 


Até que chega a noite e no centro da sala a mesa aparece posta, ali está o banquete.  


Um rangido surge e a porta se abre como que por mágica, pessoas entram, sujeitos.  


Dependuradas ali próximo estão pinturas e fotos antigas, algumas em preto e branco, empoeiradas, percebe-se que são aquelas pessoas representadas. 


Sentadas confortavelmente à mesa, utilizam-se dos talheres e digerem vagarosamente cada alimento daquela refeição, compartilham do que bebem e ali mesmo se encerram. Percebendo o momento derradeiro em volta da mesa dão as mãos, se entreolham e sorriem com tamanha profundidade. A lua cheia lá fora reflete o brilho de seus olhares e imprime em suas auras uma atmosfera iluminada. Ambos se curvam enquanto o dia amanhece e tudo se dissolve entre os raios de Sol. 


Por estranho mistério a mesa surge arrumada e em seu centro, inerte, está ali de pé um busto de bronze. Uma estátua com o dedo indicador em pé,  cruzando os lábios, na medida que aponta para cima.


No entanto lá ao longe,ainda que fora daqueles aposentos se ouve um cantar tímido, que se aproxima e aumenta a medida que amanhece e o sol por fim dá as caras. É o cantar de um galo que anuncia... 


De repente acorda, ainda confuso, mas um murmúrio rumina em sua mente baixinho: “tudo é segredo”.  


01/02/2022

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

* A FACE OCULTA *


Estado difuso 

A mente inquieta e a perpetuação de silogismos 

A lógica a ruminar ideias e derivados 

Planetas 

Mundos 

Universos 


Nosso DNA catalogado em um michoship 

Algoritmos a nos enumerar estatisticamente 


Uma menina de 7 anos faz uma enquete no instagram: "existe vida em Marte?" 


De dentro do meu sonho, penso a proposta… 


Onde tudo é possível, de dentro do meu sonho, penso o propósito… 


Abre um entardecer alaranjado,onírico

Nuvens passam… 

Casais , de mão dadas, contemplam

Crianças brincam, enquanto se extasiam

E nada aparentemente acontece 

No espaço em que tudo me preenche

Como o ar mais puro.


07/01/2022

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

*ENCONTRO*


Deixar escapar as palavras,
como quem respira...

Os olhos atentos
e a medida certa,

para que flua,

que ganhe cadência,

onde no ritmo inexato,
o mais abissal do ser,

no tato, dos dedos, das mãos,
transfigure-se num suspiro,
num sorriso, um encontro.

Presença que evoca a poesia,
e o alívio mesmo do existir...

06/01/2022