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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

*Dois Momentos*


Havia duas rosas,uma alva,outra púrpura.
Incomunicáveis,se prostravam entre diversas outras flores.
Fixas,nao podiam tomar qualquer forma de iniciativa,apenas aguardavam o momento que definiria o ápice de suas efêmeras existencias.

Um pequeno pássaro,ave livre,que traça o seu destino guiado vez ou outra pelas brisas que o levam ao grandioso jardim.

Primeiro pousa sobre a pequena rosa alva,esta que possui pétalas assimétricas e por vez nao lhe transmite qualquer forma de encanto. A ave ainda revoa ao seu redor,para que enfim introduza seu rígido bico no centro da delicada flor e assim absorva o néctar nela presente.

Voando mais a frente e procurando incessavelmente por uma rosa mais exuberante, ele finalmente depara com a flor púrpura,a mais bela de todo o jardim.
Ela parecia estar aguardando pelo momento,totalmente desabrochada e exalando um odor anestésico,se mantém facilmente perceptível.A pequena ave,então,completa seu ritual,pousando rapidamente e colocando seu bico ainda composto de polén e nectar em seu interior.

Após este ilustre acontecimento,o pássaro continua a voar , indeciso por ter de mirar outras flores sempre de cores variadas.

Enquanto isso, ao nascer do sol,surge a flor rosa,"ROSA DAS ROSAS",produto do acaso de interesses distintos e que sempre há de ser originada por dois momentos cruciais,relacionamentos casuais,geradores de nova vida.



sexta-feira, 16 de setembro de 2011

*Insônia*


Oscilando os ponteiros,o relógio em meu quarto teima em me manter acordado,fazendo um barulho quase imperceptível,mas que me mantem desperto.

Levanto-me fadigado para ver o horário, uma e quarenta da madrugada e eu aqui de pé abobalhado,pensando,como será que a dama da noite esta neste exato momento?
As lembranças diárias só agravam o meu quadro de insônia e cada barulho noturno se faz motivo para palpitações.

Lembro-me de seu belo sorriso,seu olhar puro e aconchegante,seus cabelos levemente sedosos e das sinuosas curvas parnasianas que compõe o seu corpo.

Ela não me deixa repousar em meu leito,pois os pensamentos perpassão por noite á dentro.

Que ser imprestável é este que me atormenta durante as luas que se passam?

Ainda escuto suas palavras suaves e sinceras,seus poemas repletos de profunda inoscência,sussurrados bem próximos aos meus ouvidos. E como num canto de ninar o som transmutasse em sono,paralisando-me em meu recinto.Já bastam as palavras e lembranças da poetisa e o que resta é o silêncio.

O relógio parara de oscilar,como se o tempo houvesse parado de vez...

Acompanhado apenas da escuridão presente em meu quarto,fecho os olhos.Tentando não confundir sonho com realidade , eu me proponho a apenas dormir,mas caso não haja concretude alguma em meus sonhos noturnos ,sonâmbulo andarei pelos vastos corredores de minha morada,procurando por algo que talvez nem eu mesmo saiba o que seja.





sexta-feira, 2 de setembro de 2011

* A bela bêbada e o bueiro*



Bela e bêbada,não havia palavras melhores para descrever a garota que dançava fora de ritmo junto a parede da “Sound.Enquanto todos dançavam aquela conhecida performance da música que tocava , a bela burguesa bem vestida tentava improvisar algo .Projetando o corpo para trás e para frente ,ela mexia os quadris sensualmente e eu apenas continuava vidrado em seus movimentos,admirando a cena.
Tentando tomar controle da minha mente para que não fosse levado pelos desejos da carne,fiz um esforço para usar a racionalidade e de uma maneira fria,calculando os passos e palavras que viria a pronunciar dirigindo-me a ela,comecei a falar mecanicamente,sem esperar qualquer forma de retorno.

Primeiro coloquei minhas mãos em sua cintura ,olhei em seus olhos,que eram intimidadores, por sinal,ela me olhava como se tivesse comendo-me vivo .Então quando abri a boca para gaguejar mais algumas poucas palavras , ela fez sinal com a mão de que não precisava,agachando-se,colocou um copo de bebida que segurava no chão e quando se levantou já estava com o rosto tão perto do meu que já podia sentir nitidamente o seu odor de perfume francês misturado a suor. Nos entreolhamos por alguns segundos rapidamente e numa pegada ela beijou-me os lábios,de uma maneira selvagem e excitante .Seu beijo tinha um gosto de vinho, não digo qualquer vinho, mas sim um dos mais caros, creio que o gosto da bebida era acentuada pela sua saliva,dando um tom forte e que nunca em beijo algum saboreara. Pude sentir o teor alcoólico quando suguei a sua língua ,era algo ácido e que ao mesmo tempo me acalmava num continuo êxtase,purificando-me.
Eu enlaçava meus braços em seu corpo,comprimindo-a contra o meu como se não quisesse mais perdê-la,em minha cabeça permanecia a ideia de querer eternizar aquele momento,tornando-o único.
Começamos então a dançar abraçados e em passos aleatórios .Riamos feito bobos, um do outro,trocando carícias e se mexendo num ritmo alucinante.

Assim foi,até o amanhecer...

Até que repentinamente a garota resolvera me dizer que tinha de partir ,saindo apressada e olhando séria para o relógio preso em seu pulso ela disparou. Eu ainda corri atrás dela, tentando refazer seus últimos passos , porém,o único lugar que cheguei foi a um bueiro aberto que tinha um punhado de grama que crescia junto a ele com um isqueiro caído,próximo a suas beiras. A garota sumira ,sem me dizer ao menos seu primeiro nome,deixando-me perdido e com uma sensação de vazio. Se bem que tenho de admitir , tudo que passara naquela noite ficaria em minhas recordações ,os beijos profundos e os toques que trocamos.

Peguei então um cigarro em meu bolso e acendi com o isqueiro que acabara de achar ,traguei lentamente... Lembrando-me da bela bêbada que desaparecera próxima ao bueiro.
Até que resolvi olhar detalhadamente para o curioso objeto que havia achado,nele tinha um desenho de uma lebre e mais abaixo havia também uma pequena frase talhada em letras miúdas,forcei a vista e pude ler em seu corpo: "O QUE SE ACHA SE PERDE, O QUE SE PERDE NÃO TEM FIM ALGUM."

Confuso e sem achar algum sentido específico para aquele acontecimento estranho,vaguei vagarosamente,sem rumo,pelas estreitas ruas daquele local,perdido em meus pensamentos,agora irracionais.

Chovia...