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sábado, 11 de junho de 2011

*Gare*




Sem lugar certo,não tenho objetivos.
Me chamam de"fugitivo",e a alcunha me fere,me deixa cambaleante,
Dificil é dar de cara com esta verdade dura,pior do que diamante.
Mas continuo a ir a não sei onde,me dirijo a uma estação,pegando um ônibus daqueles grandes ,mas com pessoas numa quantidade mínima por conta do horário,sentando-me sempre nas últimas bancadas,enquanto escuto músicas em línguas que desconheço em meu tocador de músicas,as imagens distorcidas e luzes vão passando rapidamente vistas de dentro do grande “Noite-Bus andante”.É uma noite chuvosa como todas as outras de inverno e para me entreter desenho com os dedos figuras disformes e palavras no vidro embaçado,sinto que parte daqueles desenhos não façam parte da minha realidade, aquelas palavras de encorajamento são apenas mais algumas que serão apagadas com o fim da chuva .
Minha mente vaga por todos os locais a fora do veículo,mas eu continuo sentado em meu assento apenas a observar o movimento de longe,vendedores ambulantes e enlamaçados esfregam desesperadamente nas janelas seus produtos e panfletos com propagandas exclamativas, mas essas pobres pessoas estão no lugar errado,quais daqueles passageiros iria querer alguma daquelas coisas sob aquelas circunstancias adversas?não havia nada de exclamativo naquele domingo,apenas faces inexpressivas numa noite nublada.
E como num passe de mágica cheguei ao local de meu destino temporário,o tempo tinha transcorrido muito rápido e ,enfim, pude chegar a grande “Gare”,estação com metrôs que iam e vinham para todos os locais da cidade,mulheres com projeteis de roupa que beiravam acima dos joelhos e barrigas de fora,creio que algumas estavam grávidas e outras estavam repletas de verminoses,se bem que ,mesmo assim, não deixavam de oferecer os seus corpos a venda por um preço reduzido se comparado a dignidade que deixavam para trás.Lá haviam pessoas de todos os tipos,dos burgueses deslocados aos skatistas descolados,homens e mulheres que trajavam roupas pretas e desfilavam munidos de expressões mal encaradas,era como um zoológico humano,havia uma enorme “biodiversidade”,de tudo um pouco, menos certeza de volta,aqueles que vagavam pela estação continuavam a freqüenta-la para observar cada nova “criatura” que surgia,outros se perdiam por lá mesmo e a adotavam como moradia.
Eu estava esperando o amanhecer,não para ver o sol ,mas por causa do horário do metrô, que passava apenas as 7 da manhã.Sentei num banco de pedra ao lado de uma senhora que trajava uma capa de chuva e segurava um enorme saco de latinhas amassadas,ela tinha olheiras e sua cara parecia transmitir espanto com algo,foi aí que ela notou que eu a observava e acabou por me olhar e dirigir suas palavras a min:
-Moço,você viu o que aconteceu ali mais na frente?
assustado e sem saber oque fazer,perguntei:
-Não.O que houve minha senhora?
-Eu ouvi falar que uma menina reagiu porque não queria ter sua corrente de ouro roubada e por isso acabou sendo morta,ave Maria!como é que uma menina tão nova pode ter sido morta por conta de uma coisa dessas?
senti um choque e meu corpo foi gelando aos poucos,a situação parecia bastante assombrosa,e então mais assustado eu falei
-Minha nossa,não sabia que havia acontecido isso pelas redondezas.Por favor ,a senhora pode me levar até o local para eu ver como esta o movimento e saber oque realmente houve?
-Moço,me desculpa, mas eu não quero ver mais a cena,acho que nem vou mais conseguir dormir hoje,já basta o meu dia que foi pesado.
Então eu saí na direção que a senhora tinha olhado e pude ver a frente duas viaturas e uma multidão de pessoas cercando algo,que eu suponho que fosse o corpo da garota,tentei me aproximar correndo por conta da curiosidade que tomara conta de min,abri um pequeno caminho na multidão e vi,algumas pessoas choravam desesperadamente enquanto uma mão feminina e estática saia de baixo da grande lona,do outro lado,tinha um rapaz negro com uma camisa de algum desses times da Europa,e ele parecia estar morto também.
Fui então perguntar ao policial o que tinha ocorrido:
-Com licença,o senhor poderia me dizer o que houve por aqui?
-Rapaz,foi algo muito rápido,o meliante estava drogado,inclusive encontramos algumas pedras de crack em seu bolso,então ele avançou na menina e a matou a sangue frio com facadas,ela ainda resistiu por um tempo mas não foi o bastante para salvarmos e acabamos por ter de matar o meliante que ainda chegou a avançar em cima de outras pessoas por essas redondezas .
-Que barbaridade!como um ser humano pode chegar a tal ponto?!não se pode mais andar tranqüilo por essas ruas a noite como antes,realmente estou chocado com o que aconteceu,mas de qualquer forma obrigado pela informação.
Uma tristeza enorme me veio a tona,era como se eu ainda pudesse reviver o momento em que a menina fora assassinada,além da visão assombrosa já não bastavam os parentes chorando desesperadamente pela garota,como se ela ianda pudesse voltar a vida.
Saí andando vagarosamente em direção ao corpo do assassino,foi aí que vi uma corrente de ouro manchada de sangue e com um pingente bem seguro nas mãos dele .Me aproximei e li
“NUNCA DESISTA DE SEUS SONHO,PAZ,AMOR E FELICIDADE”...
Então aquilo tomou conta de min,o pingente que a menina lutara para proteger continha palavras tão belas,creio que ela morreu por valorizar tanto aquelas palavras impressas e por isso devia fazer questão de exibi-las com orgulho.
De repente um grande apito ecoou por toda a estação,era o chamado,todas as pessoas que eu havia descrito e mais algumas se aproximavam do metrô formando uma fila,aos poucos todos foram entrando no trem das 7 até que ele partira para seu destino.Mas não era como antes,eu sentei na bancada e comecei a olhar o sol que dissipara as nuvens lá fora ,comecei a ver e a pensar emocionado,peguei um pequeno bloco de notas e comecei a escrever palavras que brotavam da ponta do meu lapiz,palavras estas que se assemelham as que eu desenhava com os dedos nos vidros embaçados nos ônibus que andei e outras que eu mesmo vira naquela madrugada,continuava reflexivo por conta do fato e,apesar da fadiga, dentro da minha cabeça pareciam ferver ideias como nunca antes tivera.
O grande metrô então partiu,fazendo aquele barulho característico por conta do atrito entre as rodas e o trilho,eu olhei mais uma vez pela janela e vi que não havia quase mais ninguem lá fora além dos vendedores incansáveis,me encolhi na bancada para tirar um cochilo que duraria um bom tempo até meu destino,que não seria mais o mesmo,agora iria em direção ao norte,não voltarei realmente para casa.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

*Pró‐game*




Início da partida,o estádio esta cheio,todos vibram aquele grito gravado e repetitivo,jogada ensaiada,o narrador anuncia,foi gol num escanteio,segurando o controle que treme em minhas mãos,não...não fora dedicada a min aquela comemoração.

Eu engatilho a pistola,os zumbis se aproximam,sinto suar minha nuca ao som de uma trilha sonora macabra,eles me cercam murmurando sons e pedindo por sangue , e então com a astúcia de um atirador derrubo mais alguns semi‐humanos num ritmado bang‐bang.Sinto‐me feliz numa nova fase,se aproximam mais criaturas e eu descarrego a arma a laser neles dentro de uma nave...mas espere um pouco...estava tudo sendo transmitido na grande caixa a frente,e foi o controle que descarregou trazendo‐me a tona a realidade ainda quente.

Espera,não...não é tarde para eu ser rock star só por uma tarde,eles gritam meu nome “salvo” dentro da máquina,toco uma canção da banda The doors animado,enquanto as figuras da platéia pulam em três dimensões e eu os acompanho em minha única dimensão,vibrando com uma guitarra sem cordas e de plástico,posso pausar meu show contestando que “as portas da percepção” nao me foram abertas,estático,aqui morre meu som,pobre Morrison.

Futuro,guerra de cyborgues num cyber‐espaço e num cyber‐roteiro mal adaptado.

Passado...Lá estou eu manejando minha espada numa era feudal para salvar a donzela indefesa de um gigante,mas em meu pequeno apartamento outra donzela me fala emburrada que esta tudo errado,eu já não uso minha “espada” como antes.Não mais como antes,agora,cansado de jogar o jogo numa realidade alternativa,exausto por conta de minha profissão sem vida,tirar moeda de tijolos fica dificil quando nao se tem drogas a base de cogumelos que te fazem achar que você é grande,e aí voce descobre que nao era nada nivel “professional”,voce estava no nivel “normal” e era só mais um cover,num game como todos os outros,
GAME OVER