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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

* O bonde *

Passa o bonde, veloz, como só ele... 
Passa o bonde, carregado de gente, como só ele...
O bonde passa penetrando o espaço, subvertendo as leis da física. 
Segue o bonde, atemporal, como os milagres de um suposto a caso.
Jogado a possibilidades tão remotas, o bonde passa, assim como o fato de que um mais um são dois.
Passa o rastro de fumaça, e o bonde se perde...
Eu escuto o som dos trilhos lá ao longe, estremece o bonde.
Me vem uma vontade louca de gritar "parem o bonde que eu quero subir!"
Mas o bonde passa
E eu só observo...
19/09/2015
As vezes, depois dessas andanças na vida, a gente se permite olhar pra trás, esmiuçar cada pegada ,que representa os detalhes de nosso trajeto. É quando nos damos conta do que estamos nos tornando e se o caminho a que escolhemos seguir é digno de um sentimento de gratidão por tudo que já foi vivido. Seguimos depois rumo ao norte, nesta jornada tão subjetiva, onde somos também os verdadeiros heróis a encarar cada percalço, a enfrentar a dor frente a frente e suportar o peso do que também pode ser a existência. Tomamos maior consciência de si e do outro, fertilizando o terreno onde o amor encontrará a morada. Isto tudo acaba por desabrochar a possibilidade de uma vida rica em suas mais diversas manifestações, e cada dia passa a se apresentar como um horizonte infinito de possibilidades, onde não se sabe ao certo onde e como se finda, mas é certo que o pequeno barco seguirá neste oceano imensurável . 

12/09/2015

terça-feira, 28 de julho de 2015

A cada dia sinto ver algo mais, assim vendo que sou pequeno. A vida as vezes não me parece á caso, por incrível que pareça, em cada esquina há um aprendizado. 
06/01/2015 
"É que o artista ocupa, diante do mundo, a mesma posição que o amador diante de sua obra. Ele só sente, com efeito, o mundo como uma obra, seja ela o produto da natureza ou o produto do homem. Ele nem mesmo pode escapar das diferentes explicações dessa obra(o mundo) por sistemas cosmogônicos, filosóficos ou religiosos, que traduzem, nas etapas sucessivas da humanidade, momentos de uma consciência e de uma sensibilidade." 
-Está tudo aqui 
Todo dito é dito 
Sem fim algum 
Tudo o que foi sempre será 
23/10/2014 

Ciclo

Reverenciemos o sol que a cada dia parece surgir lentamente,trazendo consigo seu brilho,seu calor, seu esplendor, como se fosse um espetáculo feito meticulosamente para cada um de nós. Reverenciemos a vida, não porque alguém nos peça, mas simplesmente por perceber que toda esta conjuntura carrega em si tamanha subjetividade, em cada parte, em cada pessoa, em cada universo interior, em cada perspectiva. Todo este delírio, tudo isto que parece não caber nas probabilidades, que subverte a tudo, inclusive a nós, presos a nossos próprios medos enquanto procuramos a estabilidade.
Escutemos cada palavra, deglutamos cada acontecimento.
E no silêncio,na plenitude do pensar, percebamos principalmente que somos aprendizes... Aprendendo com nós mesmos...
E onde estará o sol neste momento?
O sol seguirá...
Vindo então o que há de vir
O que não se pode contabilizar
O que não tem hora marcada
O arrebatamento de cada mudança, de tudo o que floresce e transforma verdadeiramente.
Que venha mais um ciclo! 
01/11/2014 

Leminski

"Quem me dera um mapa de tesouro que me leve a um velho baú cheio de mapas do tesouro".

Relato de um amanhecer incomum

Por instantes durante este amanhecer nublado pude sentir algo que me tocou, algo que verdadeiramente me emocionou.
Da janela do apartamento eu podia ver aquela mesma paisagem de todos os dias, repleta de prédios de todos os tamanhos, a vista tomada por estas estruturas de concreto que parecem brotar de tudo quanto é canto. A verdade é que na cidade a gente se acostuma com tudo, inclusive com este caos que parece nos tomar as rédeas, como se não houvesse saída. Mas durante este amanhecer senti algo que parecia ser inédito. Estava um clima levemente frio, e mesmo em meio a todo aquele cenário, algo extraordinário era perceptível. Eu não podia ver, mas apenas ouvir. Era o cantar simultâneo de vários pássaros, um canto que parecia embalar o nascer tímido daquele dia nublado, afogado entre os prédios. Um canto impetuoso, resistente. Cantos de todos o tipos, de todos os cantos. Isto tudo parecia trazer uma mensagem de um novo ciclo, o ciclo de cada dia. O ciclo da natureza, que se renova a cada instante e nos dá força, para que junto com ela ,possamos seguir em frente. 

21/09/2014

* O deserto do ser *

Torna-te quem tu és 
Disse-me o eco de minha voz, enquanto eu gritava aos prantos dentro de uma caverna
Fugi assustado
Torna-te quem tu és
Disse-me em todo ímpeto o vento assobiando forte ao pé de meus ouvidos,enquanto eu andava sozinho pelos desertos africanos
Torna-te quem tu és
Disse-me a serpente rastejando atiçada em minha direção
Enquanto mesmo em frente ao medo
Permaneci a salvo
Torna-te quem tu és
Disse-me um gesto de acolhimento feito por um companheiro , também perdido em meio ao deserto
Torna-te quem tu és
Disse-me a sombra de minhas próprias dúvidas
Quando apenas havia fome, frio e sede
Torna-te quem tu és
Disse-me a imagem distorcida de um Oasis assemelhando-se a uma miragem
Muito embora a esperança ainda me desse forças para acreditar
Torna-te quem tu és
Assim soou aos meus ouvidos o barulho da fonte que jorrava milagrosamente nas águas daquele local, até então desconhecido
Torna-te quem tu és
Disse-me o gesto de meu companheiro
Que agora partia em nova jornada
Segui também por outros caminhos
Cheguei onde jamais esperara chegar
E quando finalmente senti o fraquejo de meu peito
Lembrei-me do eco,do vento,da serpente, de meu companheiro, e do belo Oasis
Olhei por fim nas linhas tortas de minha mão
E pensei:
Aqui nunca haveria de chegar. Aquilo que hoje sou de nada valeria se no reflexo de tudo não coubesse um pouco do que é este meu ser, almejando tornar-se enfim aquilo que se é.
Respirei...
23/10/2014

* Morte e vida *

Vê este teu pranto escasso
Não te entristeces amigo
Lembra com carinho dos tempos de outrora 
De quando os raios de sol num verão longínquo
Atingiam sem cessar todos os contornos de tua face
E teu semblante...
Lembra-te!
Aquele sorriso despretensioso
Aquele olhar, dois pontos luminosos
Faróis atentos para a poesia que descobria impregnada
Toma consciência de que este mundo permanece
Ainda que padoxalmente, revelando-se a obra que se esvai impermanentemente a teus olhos
Penetra uma fresta de luz em tua caverna submersa, vêdes agora?
Obedeces a esta convocação!
Afrontas o olho da tempestade,desafias os demônios que te sugaram o sangue e estancaram tuas veias
Ao menos nesse momento,ainda não os conhece
Sente ressoar no âmago de tua alma o chamado
Toma-te as rédeas
De teu coração,por todo corpo, até as palmas de tuas mãos fluirá a energia
Agora que descobristes tal alquimia, manipularás os elementos a teu favor
Num aprendizado a ser perpetuado
Verterás então em pérolas cada gota que escorre pela tua face
Aprenderás a conviver com os demônios e os chamarás por outros nomes,
Pois agora só tu conheces bem cada um
Olha então por fim cada companheiro de caminhada
São eles também teus irmãos a se apresentarem como o semblante do divino
E também o amor de ti, por ti
O um
28/07/2015

quinta-feira, 18 de junho de 2015

* O olho *

O olho do olho do olho 
Que ficou zarolho 
De tanto olhar pro outro olho... 
E pro outro olho...
Foi só por fim descobrir
que olhando a si
descobriria O olho dos olhos
e não os olhos de outros


12/06/2015

segunda-feira, 2 de março de 2015

* Gatuna *

Olinda Noite Ó linda... Felina... Passa como um vulto Cruzando o meu caminho Porque? Olinda Teus paralelepípedos forrando o piso brilhante a luz da lua Meus passos apressados Ó linda... Onde fostes? Sinto teu cheiro de fera no cio, correstes porque? Olinda... Um beco Medo A respiração trava Ladeiras Ruas estreitas Quatro cantos Um poste, duas luzes acesas no breu Teus olhos É tu! Ó Linda! Se aproxima devagar, como quem sabe o que quer Mas teus olhos parecem-me doces Eu noto E tu parece que sentes Passas ao meu lado,se esfrega em minha perna Tento tocar-te E num salto tu deixas apenas o rastro No ar Olinda Uma bebida Um desconhecido a cumprimentar Um banco Um suspiro Uma igreja de paredes desbotadas Uma prece Dez árvores, parecem mil Um som de flauta ao fundo anuncia Tu vens, eu penso Teu nome Luíza Eu lembro Silêncio... Mais nada... É o tempo, é o vento... É um beijo! 02/03/2015

* Ser *

Cá dentro de mim
Cá dentro deste fragmento temporal
Cá dentro desta memória,daquilo que me é íntimo 
Partícula, em meio a vastidão universal
Testemunho o tudo e o nada
Ainda que pareçam só palavras,desconfio
Sinto...
A dor
O amor
O Tudo, espelho da natureza mãe ,que vibra e emana fluidez
O Nada, abismo insondável em que me jogo, as vezes até a procura de garantias
Surjo então...
Abduzido por uma força centrípeta, e eu rodopio apenas, num liquidificador de emoções
É como num passeio veloz, onde se vê os rastros de luz
E os sons pipocam,visitando-me de todas as direções...
Uma sinfonia talvez,quem dera ser
Para mim é como se fosse , e nada mais parece importar
Apesar disso,uma busca parece se seguir
Voo, como uma pena levemente revolta em um vendaval
Vago as constelações, e entre elas ,lá estão as três Marias,tão simetricamente alinhadas.
Agora sinto que posso apalpa-las
sim...
E cá dentro meu ser parece explodir, como um turbilhão que vaza por cada um de meus poros
É um fluxo tão arrebatador que seria inútil arranjar referências
De dentro pra fora, ou de fora pra dentro... Também não me importa
Não há espaço nem tempo
Inexisto enquanto indivíduo
Uma quebra se manifesta,aterriso...
Gotas de vinho caem sobre minhas vestes
Desabotoou a camisa, jogo ao chão
Tomo o último gole daquela garrafa
Sinto a brisa refrescar meu peito,meu corpo
Mas por instantes esqueço-me novamente de mim
Transfiguro-me na brisa, no esgotamento
Não tenho nome
Não sou um ser
Acredito nisto:
Uma noite, a eternidade
01/03/2015

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

* "Feliz ano novo!" *

E os ponteiros desta minha jornada chegam mais uma vez ao ponto de partida, será mesmo talvez? Fito a roupagem travestida de branco, tudo me é tão familiar. Aqueles velhos hinos a paz, as mesas fartas ao meu redor, onde se come até estufar-se.
Dou uma volta, vou a rua fumar um cigarro. 
Em meio ao trajeto, vejo ali deitado na esquina, um velho maltrapilho roendo um pedaço de coxa de ave, suponho que seja peru.
Junto a ele há uma criança ansiosa, esperando a parte daquilo que lhe cabe.
Da rua eu volto, ali... Para onde ficam meus aposentos.
Fito desta vez, em meu caminho , a lua:
Pálida
Olho as estrelas, tento forçosamente imaginar constelações e desenhos que vou traçando...
Um a um...
Ao chegar em meus aposentos, cumprimento o porteiro, desejo-lhe: "feliz ano novo!"
Completo aquele velho trajeto até o elevador. Entro nele, olho-me sério no espelho.
E após virar as costas observo, bem a minha frente, aquela nova câmera de segurança que instalaram ali.
Abaixo dela tem uma "carinha" sorrindo, é amarela, parece até que tem icterícia...
Retribuo o sorriso. Deve ser a ironia presente nisto tudo.
As vezes penso:
Quem dera ser menos prolixo,quem dera ser mais sutil !

Enfim, ao chegar em frente ao meu apartamento, abro a porta, entro. Após isto,meu coração estranhamente começa a palpitar forte, me vem lembranças. Algo destaca-se dizendo-me ao pé do ouvido, talvez um pensamento, ou talvez aquilo que acabara de entrar pela janela escancarada,assobiando mansamente, o vento... E diz:
Tempo
Tempo
Tempo
Dê-me um poema que se traduza em alento.
04/01/2015

*Ressaca*

Tontura 
Enxaqueca
Os pingos frios de suor escorriam e trilhavam caminhos mirabolantes em sua face
Ao tardar o dia ,vomitara quase um balde inteiro...
E só depois que veio o alívio ,lembrou de uma frase que um velho maltrapilho cantarolava na noite anterior ,enquanto vagava pelas ruas, tomando goles e mais goles em sua garrafa de cachaça:
" A vida eu levo com alegria, dela só tomo uma dose por dia ."
Pertinente... Pensara ele... Até se pôr a vomitar em cima do resto que sobrara do balde
14/12/2014