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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

* O monstro do pântano *


Por entre as zonas mais subterrâneas da terra vagava uma criatura de tão horrenda aparência. Não era feito de barro, mas sim de lama, formada por detritos orgânicos dos mais diversos. Seu odor era fétido como o de matéria em decomposição, assim também se caracterizava todo o resto do pântano em que vagava. Imerso até a cintura era como se estivesse fundido ao ambiente em que sobrevivia.

Que espécie de criatura teria dado parto a um monstro de tão estranha aparência?

Andava lentamente por entre as carcaças de seres aquáticos que boiavam sem vida aos seus arredores. Avistava abismado os sapos que coaxavam mais longe, junto a isso escutava o zunido dos mosquitos e o cantar das cigarras, era a fúnebre sinfonia do pântano, o coro organizado da natureza que exacerbava vida diante de um cenário sepulcral. Os gases oriundos da matéria sem vida pairavam no ar, misturando-se a névoa, dando ao local uma atmosfera extremamente densa.

E ele, o monstro, apenas seguia a correnteza do pântano que parecia não lhe levar a lugar algum.

Debruçando-se diante da paisagem o monstro recitava poesias para o nada, extraindo beleza diante daquele cenário tão pouco propenso. Era como o poeta que distinguia o perfume de uma flor no lixo.

Embalados com a sinfonia do pântano, seus versos fluíam como as águas de um rio.

Dizia:

- Quão belo é o sapo! Que faceiro se esconde dentro da lama e assim captura os mosquitos que voam em trajetórias aparentemente aleatórias, mas que na verdade buscam incessantemente por sangue. E os peixes! Que mortos flutuam junto ao meu ser, servem de alimento para muitos outros seres. As plantas carnívoras! Que se mostram inofensivas, mas a espreita aguardam também aqueles mesmos mosquitos que saciarão sua fome. Os troncos retorcidos que um dia já fizeram parte de imensas árvores intimidadoras, mas hoje são apenas sobras. Toda essa dinâmica representando o fim de um ciclo, onde a natureza faz seu papel de selecionar aqueles mais aptos num ambiente tão nocivo.

Continuava a vagar a favor do fluxo sem qualquer bússola que lhe apontasse o norte, seguia seu destino, que por ele era desconhecido.

Vagava...

Vagava...

Vagava

E Já exausto se perguntava:

-De onde venho?
Para onde vou?

Serei eu fadado a submeter-me sempre a essas questões que não levam a lugar algum? O que fiz para merecer estar aqui nesse local tão inóspito?

Mais adiante o monstro enxerga algo que talvez fosse o fim do lamacento pântano, um campo repleto de grama com um lago ao fundo. Em passos curtos a criatura assustadora caminha por entre os campos, e onde pisa deixa seu rastro de sujeira, espalhando morte por onde quer que passe.

Até que chega onde antes mirava. Agora, diante do imenso lago, sente um sentimento de profunda curiosidade e prazer, pois nunca outrora vira algo tão belo em toda sua tediosa existência. No lago caía uma cachoeira e voavam borboletas ao seu redor, peixes nadavam alegremente enquanto exibiam suas escamas prateadas.

Ele então olhou seu reflexo no lago, mas...

Não havia muito o que ver, apenas a lama que compunha seu corpo.

O monstro então se perguntou:

-O que aconteceria a mim caso entrasse no lago?

Será que este compartilharia sua beleza com uma criatura como eu?

Adentrando as profundezas dessas águas poderia enfim descobrir quem sou e o que quero?

Pergunto-me, se este lago é o fim do pântano, marcaria esse ponto o fim de minha trajetória?

Seduzido pela dúvida o monstro do pântano primeiro se banha no lago, espalhando nele toda a lama que lhe cobria, intoxicando os peixes.

Numa imagem difusa o monstro se olha no reflexo das águas. Ele se vê como algo curioso, diferente, dotado de diversos traços físicos distintos entre si. Não há mais aquela couraça de detritos que o cobria. A nova criatura, agora não mais monstro, assustado com sua nova forma se pergunta:

-Será que isso há de ser a minha essência? Não sou eu o monstro que habitava as regiões abissais daquelas terras sem vida?

Após ter feito sua descoberta, decide então mergulhar no lago, para que só assim pudesse saber o que mais essas águas o revelariam.

Mergulhou...

Com todo ímpeto possível ele mergulhou...

E quanto mais se aprofundava naquelas águas reparava que mais vida lhe cercava. Havia peixes de todas as cores, algas, répteis, moluscos. Até que de repente ainda submerso ele olha seu corpo e por conta disso lhe vem um ESTALO, ele relembra...

Outrora, em muitos momentos ele fora outra criatura, diferente do monstro, era dotada de maior conhecimento. Fora humano, como os outros que conviveram junto a ele. Era poeta, assim como ainda é hoje, poeta marginal, abissal, poeta banal!

Descobrira que voltara ao princípio, porém, não queria mais ser homem, pois vira semelhantes seus cometerem as mais diversas injustiças com outros de mesma espécie. E mesmo diante de tudo aquilo se sentia inútil por não poder fazer nada. A única coisa que mais sabia era que se perdia em suas poesias e em algumas raras vezes que criticava a massa com que convivia, mas, nada fazia.

Supunha então que fora punido a viver sobre aquelas condições, a ser monstro, conformado com seu destino, que monstro então fosse.

Tentando avistar a superfície, acabara de descobrir que novamente se perdera tudo estava muito escuro devido a profundidade que atingira e, por conta disso, não tinha mais qualquer senso de direção. Poderia ousadamente retornar a superfície e enfim ao seu pântano, mas... NÃO! Ele decide por fim tentar ir mais fundo, a fim de descobrir algo mais, além de suas expectativas.

Mais fundo...

Fundo...

E já próximo ao solo aquático ele começa a ser ameaçado por uma imensurável falta de ar, bolhas começam a sair de sua boca e narinas, não mais aguentava aquelas condições. O novo homem tenta emergir, mas não lhe sobram mais forças. Ele vai sentindo um tremor em todo o corpo sente que a vida vai lhe escapando aos poucos.

Será assim o fim?

Um último suspiro, representado por algumas poucas bolhas que lhe escaparam.

Dentre a névoa encontrasse agora a estática criatura, antes monstro, jaz homem, flutuando junto aos peixes mortos por ele. Servirá de matéria orgânica que nutrirá os esquisitos seres que ali vivem, dando por fim mais uniformidade a imagem daquele ambiente degradado.


domingo, 9 de outubro de 2011

*Conformismo*


"Se o destino é uma roda,nós somos as engrenagens que a move".

"Não temos escolha a não ser acreditar que essa roda é perfeitamente arquitetada e seguirmos em direção ao norte.
O poder das engrenagens individualmente,seus objetivos...e a lâmina que cai sobre elas.
Não esta apenas girando,esta dando voltas e a cada momento é tocado pela luz do Sol e da Lua, o mundo esta sempre mudando para algo novo.
Só existe uma coisa que não muda ,certamente,é a minha falta de poder.
Algumas vezes eles desaparecem espontaneamente.Não tenho certeza da razão.Ás vezes,tudo que resta é uma marca de sangue que apenas eu posso ver...
Junto com um vago sentimento de dor.Não importa quão forte eu seja,não posso protegê-los.
Quando penso nisso...
Meu coração se torna uma espada.
Está dando voltas...
Se o destino é uma roda,então nós somos os grãos de areia presos entre as engrenagens.
Nós somos inúteis.Tudo que queremos mesmo é poder.Mesmo que não sejamos capazes de protegê-los apenas estendendo nossas mãos...
Nós desejamos que uma lâmina seja segura.O poder para mudar o destino de alguém é igual á queda de uma lâmina.
O meu poder é o poder para mudar o destino?Ou eu serei engolido por esta força igual aos demais?
A história da voltas?
Ou é algo que progridi?
Mesmo que dê voltas,será que isso poderia ser rompido?
É uma coisa para se contentar?
Contentar-se..."

P.S. texto adaptado por mim e retirado de um desenho animado.