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sexta-feira, 26 de março de 2010

*Eclipse*



Em minhas fatigadas pálpebras eu sentia o peso de toda a minha existência e pude ficar estatelado diante da penumbra,pessoas se aproximavam para ver o tal
fenômeno,a fina divisa entre a luz e a escuridão iluminavam minha fronte enrrugada ,e cada dobra de minha testa parecia contar os anos de maresia que havia passado no litoral.
A pesca sempre havia me ajudado a sustentar os filhos,mas a época estava fraca,como eu também havia sedido as minhas fraquezas,bebia um grande copo de cerveja enquanto olhava para o céu estrelado e admirava o eclipse,além de cobrar uma taxa para os carros que estacionavam pelas proximidades.
Sentia que todos tinham o intuito de registrar aquele momento e torna-lo único,flashs e mais flashs,talvez aquilo não tivesse significado para alguns ou para outros poderia ser o registro de uma nova era,mas para min oque importava era o calor humano, era ele que me retirava da solidão, aquilo era de tamanha importancia para um andarilho sem a sua família, e mesmo não sendo o protagonista de tal evento gostava de poder estar ali e admirar a simplicidade das crianças que se juntavam em torno da praça.Quem sabe um Deus houvesse marcado esta datas para nós ,seres fadado a busca por algo que nem mesmo sabemos.
Já estava praticamente sonâmbulo mas queria ficar acordado para acompanhar aquilo,o alcool que ingeri temia em fragilizar meu corpo mas minha mente buscava algo mais forte,mesmo deitado no chão meus olhos permaneciam abertos,buscava algo que talvez estivesse além de min,os astros pareciam estar ali por uma grande motivo e este algo forte seria o além.Sendo este além a morada dos Deuses,eles que nos mandavam sinais e constantemente interferiam em nossas vidas,fazendo com que nós pendessemos para um dos dois lados: a escuridão ou a luz,e assim nossos destinos estariam demarcados por tais entidades que não nos dariam escolhas.Eu já estava indo muito além do que realmente estava vendo,mas,de qualquer forma sempre fora um cara religioso,hoje não posso mais dizer tais palavras,pois algumas coisas já não pareciam ter mais sentido,minha vida parecia estar tomada pela escuridão do eclipse ,ele me engolia cada vez mais roubando a minha luz,minhas esperanças,mulheres,filhos e até o dinheiro desperdiçado,oque me bastava agora era rua e as esquinas, minhas festas se transformaram em um fim de feira,e o deus a quem depositava tanta importância deixou-me alegando o livre-arbítrio.Fadado a este destino,esperarei os próximos eclipses para garantir meus trocados ,tomando para si uma vida a margem da luz,destinada a mesma sina.

quarta-feira, 10 de março de 2010

*Fertilizante insignificante*


Laranja,
é a cor do teto infinito que aparece no cotidiano de toda essa massa,
essa massa de animais que se dizem racionais,
codificam meros sinais e sem mesmo notar olham para o ar e vêm que inicia-se mais uma rotina,
como de praxe,
abrem a cortina,
é aí que respiram a fundo deste ar tóxico da vida, e é este mesmo ar que lhes abastece o organismo mecanicamente programado.
Deixando então sua privacidade temporária,costumam comprar um papel recheado de notícias,
enquanto fumam um cigarro e com o papel em mãos pulam a matéria de capa, que mostra um morto diariamente ,
para então dar uma olhada na sessão de esportes que os mantém "atualizados".

Seguem agora no seu objeto de orgulho e exibicionismo afim de chegar até sua fonte alienadora de renda,e é lá que provam sua existência.
Após alguns dias de extress e desgaste físico e mental,garantem seu "papel de valor",e é aí que exercem sua capacidade de auto-afirmação,
comprando mais do mesmo,sendo esse mesmo um mesmo mais completo.
Após muitas idas e vindas em
shoppings,concessionárias,mobiliárias,imobiliárias,bancos,restaurantes e escritórios,enfim,
tornam-se poderosos.Com essa nova experiência de poder adquirido num prazo já estimado,
continuam então gastando o tempo que lhes restam até que ele os desgaste por completo,
e é aí que passa seu último céu laranja para que estes venham finalmente a cumprir a útil função de adubo para a terra,
que posteriormente gerará mais adubo...

e mais adubo...

mais adubo...

e mais adubo...

mais adubo...

e mais adubo...

mas que merda em?

* A pena e a corda*


Faltou-me tinta pra terminar,mas não te preocupas,sei bem onde buscar.
Testemunhei de tão perto,que escrevo,e tu pensas que é certo.
Mas é com pinceladas que estraçalho teu crânio a marretadas
e quando já não consegues ficar de pé,te socorro dando-te a corda.
Afirmo-te com um azedo enojo que és digno...mas... não calcule que por esta informalidade eu ei de cair junto a ti.Já caístes a muito tempo,e te digo novamente,o sentimento que sinto
nada mais é do que... A PENA!!!!
a pena,aquela que julgastes tão leve,te fez cócegas
a pena,sim!!!!sim!!!!
recorda-te da pena?
fez-te rir por pirraça,
ora,oque foi?pensastes que o corvo era garça?
dele a pena arrancastes para findar-lhe a trajetória?
procurastes muito,fostes de encontro a tua própria glória?

É meu caro,o preto já não raro,te foi um branco,mero amparo .

Suas palavras foram as minhas,e delas fizestes mentiras,indignas verdades,falsidades.
Ainda as digo para tocar-te...
não,eu não me canso,
mesmo vendo teu corpo reto e num rítmico balanço...

queres voar...
mas...
e as penas na praça?
queres subir...
mas...
e...

ACORDA!!!
já é tarde!
aquilo que caia parou!
afogastes num orgasmo de vômito!
e é com pesar que te digo o segredo,
satisfatório saber que em tua cerne não estampa mais o medo.
A ampulheta que a muito temias não desvirou ,
e a serpente de tão comprida tua boca enrolou como mordaça.
Fostes livre para elevar-te a graça,mas... a...
c
o
r
d
a
ensebada de gula
escorregou-te
rumo a d
e
s
g
r
a
ç
a .

* Fera noturna*


silêncio na metrópole, o que a pouco havia não há mais
recolheram-se estes que transitavam em afazeres
poucos os que ainda rondam o asfalto,sinistros seres
embarcaram as lembranças e vidas neste imenso cais

respirações e roncos uníssonos...
roncos de homens e máquinas

poucas as maquinas vorazes e velozes que ainda teimam em quebrar o silêncio noturno
muitos os homens que em seu leito desfrutam de um sono oblíquo , profundo

mas meu ser permanece intacto e simplório...

como tal lobo que uiva perante a luz do luar
já sinto a brisa que é vida
é o vento que afasta minhas perguntas em ida
fico então amaldiçoado,eternamente a me indagar

será que por leis a terra é regida?
será racional meus instintos matar?

espero que tudo isso não me venha a calar...

pois nessas luas que passam minha missão é cumprida...
não há mais a presa calada e retida
agora há fera selvagem num surto a urrar!

terça-feira, 9 de março de 2010

* Compacto*



Quando bem quer Satisfaço tua ânsia

se estás diante do escuro te dou o morcego

se estás diante do caos te dou o sossego

se queres liberdade te dispo a infância

se queres vaidade forneço-te o apego

é só uma troca,não há distância

fazes o que peço na chegada hora

não saberei se dói nem se chora

não saberei se te serve mais esta ganância

dai-me a alma sem relutância

faça antes e faça agora !

sinta chegando o fervor e a constância

o que era de princípio interno se possui por fora

jaz cedo teu corpo em tarda hora

e fica tua mente perdida em ignorância.

* Acordando *


Enterrado dentre os entulhos,não havia luz,dor,odor,sabor,
permanecia estético e estático.

O relógio em meu pulso havia enferrujado e a ele coubera a função de marca-passo,pois ainda pulsava em minhas já estreitas veias aquele líquido ferroso,foram muitos passos marcados,muitos "depois" pronunciados e esquecidos em minha memória rã.Depois de tanto vender-me e matar a sede dos loucos com meu suor ,depois de tantas horas,oras,pressa e preces...
Há,há,há,há,há será que ele realmente irá me ajudar? Não,não acredito em sonhos nem em deuses de barro que traçam-me o futuro,vivo do agora.A ocasião me tornou aquilo que hoje sou,fruto do meio,determinado a ser isso.

Os sábios da tv tiveram muito a oferecer,não haviam falhas,a garantia de troca,troca de mente,demente ! tornei-me um frankstein daqueles que se vêem em filmes de ficcção-científica,passei a me mascarar com peças,anúncios ambulantes,brilhos,meus olhos refletiam,minhas vestes atraiam .A garantia de prazer me fora atendida,não fora tão duradoura,mas havia sido o bastante para me fazer querer mais!mais e mais incessantemente,continuava a vagar e a procurar as sobras,sobrou-me o vácuo.
A mina que cavei,a piscina que comprei,funda ou rasa,eram mais uma garantia,atestado de óbito.
Tanta promessa de peça,discurso sem curso,comercial,comer-se a si mesmo foi o que fiz ,baleado de informações,eram tantos tiros e tantas dores que eu já havia me esquecido das últimas,agora há apenas uma mera carcaça entupida de buracos que não podem ser tapados por cápsulas.

Mas o pulso ainda pulsa e a mente ainda trabalha...
Eis de agarrar a navalha,capar pra escapar!
Eis de cortar as velhas pregas,irei ditar as novas regras!

De repente noto um abalo,algo me aperta e no embalo vejo-me emergindo dos entulhos...

Volto a ver a luz que ofuscava-me os olhos,sentir a dor dos estilhaçados cacos cortantes, sentir o odor pútrido e pirante ,sentir o sabor indigesto e picante,já posso presenciar de tão perto a grandiosa criatura de aço que surgira ,ela que segura minha perna frágil e me puxa para cima,como um foguete,decolo na direção do infinito,e ao ver de novo,venho a gritar e a chorar desesperadamente,derramando estas lágrimas oleosas que me sobram,nasci novamente,desta vez parido pelo mundo.