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domingo, 16 de novembro de 2014

* Silêncio *

Se pudesse ser tirada uma dúvida, uma única dúvida...
De fato, perguntaria sobre a gênese das coisas
O que veio primeiro:
O ovo ou a galinha?
O universo ou Deus?
A linguagem ou o homem?
A razão ou o amor?
Poderia passar uma eternidade equiparando cada coisa, cada causa, cada fenômeno.
Poderia perguntar-me até sobre a mangueira, se ela veio ou não antes daquele prédio. Se ali onde hoje existem tijolos,pessoas e livros antes não havia uma densa floresta.
Poderia tirar cada uma de minhas dúvidas, saciar esta sede inexata e desvelar , por fim, todos os mistérios...
Assim,talvez tornasse-me pleno...
Da mesma forma que é o vento, correndo os céus, assobiando ,em sua traquinagem mais íntima.
Seria da mesma forma que as plantas, vivendo da luz. Da seiva que corre, dos ramos que se enroscam... E cresce... Cresce... Cresce
Como aquela mangueira
Como aquela palavra que sai da boca e pergunta... Como o pensamento, que se forma antes disso tudo e entra em comunhão com todas as coisas... E a boca, que antes de expressar qualquer que seja a duvida, se fecha e se encerra no mais profundo e compreensivo silêncio.


15/11/2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

* Há *

Há algo dentro ...
Um espírito efervescente que por vezes bate a minha porta

És tu ? Criatura mitológica, habitante de todas as eras. Sopro estuporante que corre os breus das matas e por fim me atravessa o peito
Que queres? És um sinal?
Há algo dentro ...
Não sei dizer o que
Minha língua já não cabe
Minha boca permanece trancada
Meus olhos cerrados
Estou mudo
Mas ainda me sobra a insistência das horas, que também por serem apenas horas ,nada me dizem.
Há algo
Talvez seja o riso de um olhar
Talvez seja os gestos despropositados
Talvez seja o afeto que as coisas refletem em meu olhos
E,por fim,talvez seja delírio ...
O gosto daquele azul turquesa naquele pijama
O cheiro que irrompe do último gemido, a umidade
O som que a flauta tocava, eu vi, juro!
Deste jogo mirabolante e preciso nada mais hei de querer,nada!
Apenas este poema
E é isto que há
10/10/2014

* Uma questão de escolha *

Certo dia estava um homem a andar numa rua deserta.
Era madrugada. E quem andava por aquelas bandas durante aquele horário, certamente não teria feito a melhor das escolhas.
Escutava apenas o som dos seus passos e talvez algo mais, provavelmente o ruído de seus pensamentos.
Ao prosseguir , notou que surgia um cão de uma das ruas que dava na que ele estava. O animal andava bem a frente, os passos leves, revirou uma lata de lixo, pegou uma sobra de comida e seguiu.
Lá atrás , após ter observado o cão e notar que poderia ser interessante ter a sua companhia , ele gritou: "cão!" , e depois mais um vez, "cão!". Sem esboçar qualquer reação, o animal prosseguiu...
Andando um pouco pensativo , se reparou pensando algo engraçado, na verdade, de que adiantava ele se comunicar com aquele animal chamando-o de cão? O animal não sabia o significado disto e talvez nem tivesse a oportunidade de ter escolhido ser um.  
Sim, é verdade...  

13/09/2014


quinta-feira, 26 de junho de 2014

*Xadrez*

Cárcere das possibilidades 
Precisão na imprevisibilidade

Sua... 
Treme... 

Visto o imprevisto de 
um reinado impossível
e já dando pelas últimas,
concorda em dizer:
empatada a partida

23/06/2014

quarta-feira, 2 de abril de 2014

* A day in the life *

Tempo que se segue,se perde,passeio que se repete(ou não).

A gigante máquina trafega sobre suas quatro rodas 

"Zigue-zaguea",por entre tantas outras rodas... 

Rodando...
Rodando...
Rodando...
Rodando...

Estúpida simetria é o fado do dia-a-dia

Rente aos meus olhos, no "bus-tv", correm uns programas de curta duração, um repertório que me estranha:

-Realiza-se acordo entre Cuba e Eua pela memória de Hemingiway

-A senhora que inova, fugindo do sedentarismo: "Resolvi andar na esteira enquanto digito em meu gabinete de escritório,faz bem ao equilíbrio" .

Sinto náuseas...


De repente um fato inesperado: Esbarra em meu ombro uma figura pequenina,mais parece ter saído de um conto fantástico, tem 
cara de adulto,ele passa correndo com suas pernas miudinhas. Com uma voz grossa, ele avisa gritando ao motorista,dizendo que quer descer do veículo. 

Sinto-me confuso(e como não ficar?)...
Meus olhos vagueiam janela á fora.

Em frente ao semáforo vejo um homem de nariz vermelho arremessando malabares aos ares, malabares luminosos. Cronometradamente, termina sua apresentação e faz reverência.

A janela corre...
Mais rodas...

Quase me esqueço,hora de desembarcar!

Desço apressado,mas a cuca não para,uma sopa fervente de neurônios.

-É meus caros, a maioria dos míopes que me perdoem, mas estes ônibus de Recife são um passaporte certo para o absurdo! 


Entre 02/04 e 03/04 ,2014

quinta-feira, 20 de março de 2014

* Amorfo *



Mundo...

Os olhos cruzam os vultos desconexos
Habitando o grupo dos signos reversos
Sugam a poesia do instante fecundo

Fitando a infinutude ,eis que me pergunto:
Findar-te isto um dia tudo em segundos?

Sem ciência, recomeço...

Muito mais que vultos estes órgãos anseiam traduzir
Seguindo o fluxo da seiva, nascente a explodir
Perpassam o choque dos timbres que emana das nascentes
Notando do cair da folha ao germinar da semente
Penitência perpétua daquilo que há de vir

Fitando a infinutude ,eis que ainda me pergunto:
Findar-te isto um dia tudo em segundos?

Sem ciência, recomeço...

Hei de confundir-me ainda neste jogo de cores
Brotando multicromáticos, efêmeros amores
Tortuosos caminhos, sonhos longínquos ,mitologias
Desvelando-se a carne dos corpos, singulares fantasias

Eis que mais à frente observo para além da carne, do véu a diante
E mais nada se vê como olhavam os olhos de antes
A substância que me compunha expandiu-se no processo
Esvaindo-se do meu ser o sumo
Destino-me
 a tornar-se Uno

Caminhando ,por fim, junto á todo o universo
Do primeiro em diante, até o último verso .


20/03/2014