Eu
Bem aqui
Nu
Bem aqui
Em meio as cobertas
Contraído
Quase sonâmbulo
Tomando o último gole do que me sobrara
Na ânsia vertiginosa do querer
Barganhando entre existência e prazer
Os dias se repetem
As noites avançam
E sob os dias, as sombras vagueiam ocupando espaços vazios
Horas são horas
Pessoa são pessoas
E da caixa miraculosa da vida, nada de novo
Ajusta-se o tamanho da caixa até que fique bem miúda
Até que ela caiba no bolso
E aí sim, mais uma vez
Nada de novo
Do querer forjam-se os grilhões
Enormes e pesados
As vezes até me orgulho deles
As vezes até como medalha os exibo
Mas, as vezes…
Bem as vezes...Bate cá um oco
E do fundo dos pulmões até os dentes ,ecoa um grito de discórdia, que faz bater os dentes, que faz trincar os dentes
E no fervor todo o corpo pulsa em revolta
Olho-me no espelho em pedaços
Um conjuntos de cacos
Olho-me em cada gesto que se perde, e cor ,e som ,e o fogo que dança em cima da vela, que queima
A vida não é o que disseram que era
E para que não passe de ilusão
Até o derradeiro suspiro
Há de olhar-se sem remorso
Deixar-se para que siga
Entregar-se por inteiro
E como toda chama que se preze
Se fará esta consumida
20/07/2020