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terça-feira, 9 de março de 2010

* Acordando *


Enterrado dentre os entulhos,não havia luz,dor,odor,sabor,
permanecia estético e estático.

O relógio em meu pulso havia enferrujado e a ele coubera a função de marca-passo,pois ainda pulsava em minhas já estreitas veias aquele líquido ferroso,foram muitos passos marcados,muitos "depois" pronunciados e esquecidos em minha memória rã.Depois de tanto vender-me e matar a sede dos loucos com meu suor ,depois de tantas horas,oras,pressa e preces...
Há,há,há,há,há será que ele realmente irá me ajudar? Não,não acredito em sonhos nem em deuses de barro que traçam-me o futuro,vivo do agora.A ocasião me tornou aquilo que hoje sou,fruto do meio,determinado a ser isso.

Os sábios da tv tiveram muito a oferecer,não haviam falhas,a garantia de troca,troca de mente,demente ! tornei-me um frankstein daqueles que se vêem em filmes de ficcção-científica,passei a me mascarar com peças,anúncios ambulantes,brilhos,meus olhos refletiam,minhas vestes atraiam .A garantia de prazer me fora atendida,não fora tão duradoura,mas havia sido o bastante para me fazer querer mais!mais e mais incessantemente,continuava a vagar e a procurar as sobras,sobrou-me o vácuo.
A mina que cavei,a piscina que comprei,funda ou rasa,eram mais uma garantia,atestado de óbito.
Tanta promessa de peça,discurso sem curso,comercial,comer-se a si mesmo foi o que fiz ,baleado de informações,eram tantos tiros e tantas dores que eu já havia me esquecido das últimas,agora há apenas uma mera carcaça entupida de buracos que não podem ser tapados por cápsulas.

Mas o pulso ainda pulsa e a mente ainda trabalha...
Eis de agarrar a navalha,capar pra escapar!
Eis de cortar as velhas pregas,irei ditar as novas regras!

De repente noto um abalo,algo me aperta e no embalo vejo-me emergindo dos entulhos...

Volto a ver a luz que ofuscava-me os olhos,sentir a dor dos estilhaçados cacos cortantes, sentir o odor pútrido e pirante ,sentir o sabor indigesto e picante,já posso presenciar de tão perto a grandiosa criatura de aço que surgira ,ela que segura minha perna frágil e me puxa para cima,como um foguete,decolo na direção do infinito,e ao ver de novo,venho a gritar e a chorar desesperadamente,derramando estas lágrimas oleosas que me sobram,nasci novamente,desta vez parido pelo mundo.

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